O que você escreveria em uma redação sobre racismo no Enem?
Esse é um tema bem abrangente, então, você pode ter diversas abordagens.
Contudo, é importante entender o problema de forma global: O que é o racismo? Quais são suas consequências? Como ele aparece na sociedade?
Neste artigo, buscamos apresentar uma perspectiva geral sobre o assunto e mostrar como o tema pode aparecer na redação do Enem. Confira!
Aqui você vai ver:
O racismo estrutural no Brasil
O que diz o Código Penal sobre o racismo
Como o tema racismo pode aparecer na redação do Enem
Como começar uma redação sobre racismo
Exemplo de redação sobre racismo que tirou 1000 no Enem
O racismo estrutural no Brasil
Racismo estrutural é uma forma de organização da sociedade que beneficia uma etnia específica ao passo que oprime e explora outra.
No caso do Brasil, devido ao processo histórico de colonização e escravidão que durou mais de três séculos, a população branca é privilegiada e a negra é desmerecida.
Trata-se de um processo sutil e complexo, que muitas vezes pode passar despercebido pela maioria, criando, inclusive, a perspectiva falsa de que “não existe racismo no Brasil”.
No entanto, basta analisar a diferença de representações sociais entre a população branca e negra para observar que, na verdade, está bem explícito.
A seguir, confira alguns dados que comprovam esse fato:
- Segundo o Anuário Brasileiro, 66,7% da população carcerária é negra — ou seja, a cada três presos, dois são negros.
- De acordo com levantamentos do IBGE, negros são 75% entre os mais pobres.
Mesmo com a implementação de medidas, como a Lei das Cotas, para reduzir essa disparidade entre brancos e negros na sociedade brasileira, a questão do racismo estrutural ainda é muito evidente e precisa melhorar bastante.
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O que diz o Código Penal sobre o racismo
Em 1984, a Lei nº 7716 foi regularizada e tornou o racismo crime inafiançável. Segundo a legislação:
“Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.”
Algumas situações de racismo a qual a lei pode ser aplicada são:
- Negar ou obstar emprego em empresa privada;
- Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.
- Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
A pena pode chegar a cinco anos e multa.
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Como o tema racismo pode aparecer na redação do Enem
O discussão em torno do racismo está sempre presente no Brasil. Como o problema aparece de diversas formas na sociedade, esse é também um tema que o Enem sempre gosta de trazer como pauta.
Inclusive, racismo foi o tema da redação de 2016: “Caminhos para combater o racismo no Brasil”.
Embora já tenha aparecido uma vez, existem diversas outras maneiras dessa pauta aparecer na redação do Enem. Confira algumas:
Cotas raciais
Criada em 2012, a Lei de Cotas determina que universidades e instituições de ensino federais reservem metade das vagas para estudantes que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas e consigam a nota necessária para ingressar na instituição escolhida.
Dentro dessa legislação, as cotas raciais viraram uma subcota, dentro dessa reserva de vagas para alunos de escolas públicas. A porcentagem para pretos, pardos e indígenas não é fixa – varia de acordo com a quantidade de habitantes desses grupos no estado onde se localiza a instituição de ensino.
Em 2022, a Lei de Cotas completa dez anos, o que faz com que o tema seja uma boa aposta para a redação do Enem.
Diferença salarial
De acordo com dados do IBGE, a média de ganhos de pretos e pardos equivale a 57,7% da renda de brancos. Os dados foram levantados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), entre 2012 e 2020.
A diferença salarial entre pretos, pardos e brancos é mais um dos dados que escara o racismo e a desigualdade no Brasil.
Além disso, quando fazemos um recorte de gênero na questão da diferença salarial o abismo é ainda maior.
Segundo a consultoria Gestão Kairós, mulheres negras ocupam somente 3% dos cargos de liderança nas empresas.
Frente a todos esses dados, essas temáticas são também boas apostas para a redação do Enem.
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Segurança
Conforme o Mapa da Violência (2016), dos 30 mil jovens entre 15 e 29 anos que morrem por ano, 77% deles são negros.
Infelizmente, é comum assistir casos de violência policial e abuso de poder, principalmente em favelas, contra pessoas pretas, que apenas pela sua cor são consideradas suspeitas.
Essa é outro debate que tem grandes chances de aparecer no Enem.
Representatividade
Quantos personagens principais negros da ficção você pode listar?
Mesmo mais da metade da população sendo negra, a maioria das pessoas que ocupam grandes cargos na televisão, empresas, política e outros setores da sociedade ainda são brancas — menos de 5% dos colaboradores negros têm cargos de gerência ou diretoria, por exemplo.
Sendo assim, a representatividade é outra pauta que está em debate na sociedade.
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Como começar uma redação sobre racismo
Você pode começar sua redação sobre racismo de diversas formas, desde que, ao longo dela, tenha três elementos fundamentais:
- Contexto: introduzir o assunto de alguma maneira.
- Compreensão do tema: mostrar que você entendeu a pauta da redação, trazendo todos elementos do tema.
- Tese: a opinião que você pretende defender ao longo do seu artigo.
A seguir, confira algumas formas de começar seu texto:
História
Traga algum contexto histórico relacionado ao racismo, como:
- Escravidão;
- Colonização;
- Apartheid;
- Zumbi dos Palmares;
- Segregação racial.
Lei
Cite alguma lei relacionada a desigualdade racial ou racismo.
Você pode utilizar a Lei Nº 7.716, que “define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor” ou a própria Constituição Federal de 88, que diz no parágrafo 5º:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”
Notícia
Infelizmente, saem notícias diárias de casos de racismo na mídia. Você pode citar algum caso e relacionar com o assunto.
Estatísticas
Traga algum dado relacionado ao racismo — já trouxemos vários ao longo deste artigo.
Série e filmes
Existem diversas produções que abordam o tema. Confira alguns que você pode usar:
- Histórias Cruzadas;
- Infiltrado na Klan;
- A 13º emenda;
- Cara Gente Branca;
- Olhos que condenam.
Música
Sim, você também pode utilizar citações de músicas que falem do racismo na sua redação como repertório cultural! Confira algumas:
- Racismo é Burrice — Gabriel Pensador
- Negro Drama — Racionais MC's
- Boa esperança — Emicida
Comparação
Faça um paralelo entre outro tempo ou lugar e traga para o Brasil de hoje.
Por exemplo, os Estados Unidos são conhecidos pela questão do racismo bem evidente e você pode fazer um gancho com o Brasil, mostrando que o problema também está bem presente aqui.
Citação
Traga alguma frase emblemática de uma personalidade famosa ou estudioso, como essa do Nelson Mandela:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”
Exemplo de redação sobre racismo que tirou 1000 no Enem
Autor: Helário Azevedo e Silva Neto, de 17 anos, Ceará (CE)
"O Período Colonial do Brasil, ao longo dos séculos XVi e XIX, foi marcado pela tentativa de converter os índios ao catolicismo, em função do pensamento português de soberania. Embora date de séculos atrás, a intolerância religiosa no país, em pleno século XXI, sugere as mesmas conotações de sua origem: imposições de dogmas e violência. No entanto, a lenta mudança de mentalidade social e o receio de denunciar dificultam a resolução dessa problemática, o que configura um grave problema social.
Nesse contexto, é importante salientar que, segundo Sócrates, os erros são consequência da ignorância humana, Logo, é válido analisar que o desconhecimento acerca de crenças diferentes influi decisivamente em comportamentos inadequados contra pessoas que seguem linhas de pensamento opostas. À vista disso, é interessante ressaltar que, em algumas religiões, o contato com perspectivas de outras crenças não é permitido. Ainda assim, conhecer a lei é fundamental para compreender o direito à liberdade de dogmas e, portanto, para respeitar as visões díspares.
Além disso, é cabível enfatizar que, de acordo com Paulo Freire, um seu livro "Pedagogia do Oprimido", é necessário buscar uma "cultura de paz". De maneira análoga, muitos religiosos, a fim de evitar conflitos, hesitam em denunciar casos de intolerância, sobretudo quando envolvem violência. Entretanto, omitir crimes, ao contrário do que se pensa, significa colaborar com a insistência da discriminação, o que funciona como um forte empecilho para resolução dessa problemática.
Sendo assim, é indispensável a adoção de medidas capazes de assegurar o respeito religioso e o exercício de denúncia. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Justiça, implementar aos livros didáticos de História um plano de aula que relacione a aculturação dos índios com a intolerância religiosa contemporânea, com o fito de despertar o senso crítico nos alunos; e além disso, promover palestras ministradas por defensores públicos acerca da liberdade de expressão garantida pela lei para que o respeito às diferentes posições seja conquistado. Ademais, a Polícia Civil deve criar uma ouvidoria anônima, tal como uma delegacia especializada, de modo a incentivar denúncias em prol do combate à problemática."
